Como dar um diagnóstico difícil para um paciente?

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Publicada 03/08/2018

A rotina de um médico é permeada por muitos momentos gratificantes, ao facilitar o tratamento e a cura de diversas condições de saúde. Entretanto, o cotidiano desse profissional também envolve a tomada de decisões complicadas, sendo muitas vezes o porta-voz de notícias que não gostaria de dar.

Afinal, como dar um diagnóstico difícil para a pessoa que buscou o seu atendimento? Isso não é desafiador apenas para quem descobre uma doença. O responsável por prestar a informação também é impactado pelas emoções negativas. Diante disso, como se acalmar e passar tranquilidade ao paciente?

A sua postura na hora de dar uma notícia delicada influencia diretamente na forma como a pessoa vai encarar o problema. Por isso, preparamos um post completo para orientar você nesse desafio. Vamos lá?

Saiba o que o CFM diz sobre diagnósticos
O Conselho Federal de Medicina (CFM) é um órgão que representa e regulamenta a profissão no Brasil. Ele é autor de diversas publicações que orientam a atuação dos médicos de todo o país. Em relação ao diagnóstico, é entendimento do conselho que a realização dele e a prescrição de tratamentos são de responsabilidade do médico.

Entre os documentos publicados pelo CFM, um dos mais importantes é o código de ética profissional. Nele, estão escritos os valores da profissão e os principais deveres e diretos do médico, assim como as proibições. Diversos pontos desse código nos dão informações sobre a questão do diagnóstico.

Fica claro, por exemplo, que o médico tem obrigação de passar para o paciente informações verdadeiras sobre o seu estado de saúde, combinando com ele os passos que serão realizados no tratamento. Portanto, os procedimentos de saúde precisam ser esclarecidos para que a pessoa expresse o seu consentimento em relação a eles.

O código de ética deixa claro que é proibido que o médico deixe de informar ao paciente sobre diagnóstico e prognóstico, assim como os objetivos e riscos do tratamento. Isso garante que sejam reconhecidas a dignidade e a autonomia da pessoa em seus processos de saúde e doença.

É obrigação do médico esclarecer sobre os determinantes sociais, profissionais ou ambientais da doença desenvolvida. Ainda segundo o código de ética, o médico deve utilizar de todos os meios disponíveis para fazer o diagnóstico e tratamento em favor dos pacientes, desde que sejam validados cientificamente.

Para casos irreversíveis e terminais, entretanto, o documento faz uma ressalva: o ideal é evitar a realização de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos desnecessários. Nesse tipo de situação, a atenção do médico deve focar em oferecer os cuidados paliativos e poupar o paciente de técnicas invasivas.

Nas publicações de orientação produzidas pelo CFM, é delineada a responsabilidade do médico em acompanhar o paciente e informar todos os dados sobre a sua condição de saúde. Assim, o profissional precisa reconhecer o seu papel e estar preparado para dar as informações com cuidado e empatia.

Conheça os principais modelos da relação médico-paciente
Dar um diagnóstico difícil depende, em grande parte, do vínculo estabelecido entre a pessoa atendida e o profissional de saúde.

Essa relação pode se dar de maneiras diversas, principalmente se considerarmos o desenvolvimento da medicina historicamente. Para compreender essa situação, é interessante conhecer os modelos que marcam a atuação do médico. Veja, a seguir.

Modelo sacerdotal
Essa é uma das abordagens mais tradicionais da medicina. Ela foi mais comum no início da profissão, quando o saber médico era considerado soberano e ligado ao dom divino. Entretanto, ainda hoje é possível perceber práticas sacerdotais entre profissionais de saúde.

A principal marca desse modelo é uma postura paternalista em relação ao paciente. O médico se porta como quem sabe o que deve ser feito, não compartilhando o poder de decisão com o paciente. Pela soberania do seu conhecimento técnico, ele, muitas vezes, desconsidera a opinião da outra pessoa.

Modelo engenheiro
Em oposição à visão sacerdotal da medicina, surge outro extremo. Segundo o modelo engenheiro, é o paciente o principal responsável pelas decisões sobre a sua saúde.

O ponto delicado desse modelo é que o paciente passa a ser visto como alguém que deve escolher os caminhos sozinho. O médico, nesse caso, tem o papel apenas de prestar as informações necessárias, sem intervir na independência do paciente.

Modelo colegial
Ao longo dos anos, a oposição entre os dois modelos anteriores fez surgir uma síntese que defende o compartilhamento das decisões acerca do tratamento. No modelo colegial, o médico e o paciente são compreendidos como sujeitos iguais, com os mesmos conhecimentos e mesmo poder de escolha (o que é questionado por alguns).

Modelo contratualista
Como dissemos, o modelo colegial é criticado por não considerar a relevância do conhecimento profissional. Em consequência, foi desenvolvida uma nova forma de entender essa relação.

A maneira contratualista considera a especificidade do saber médico e defende que ele é o responsável por identificar os prós e contras de cada procedimento.

Isso não significa, entretanto, que o profissional é o único que toma as decisões. Nesse modelo, é reconhecida a importância de envolver o paciente como parte ativa nas escolhas sobre a própria saúde. Por estimular uma parceria que leva em conta as particularidades de cada sujeito envolvido, esse é considerado por muitos a relação ideal entre médico e paciente.

Entenda como a maneira de dar um diagnóstico influencia a vivência do paciente
Receber um diagnóstico difícil não é nada simples. Nenhuma atitude do médico vai tornar esse momento fácil para quem escuta a notícia desagradável. Entretanto, já é consenso que a postura do profissional durante a conversa com o paciente exerce muita influência sobre a forma como a doença e o tratamento vão ser encarados.

Nos últimos anos, pesquisadores e profissionais da saúde têm falado muito sobre a importância de uma atitude positiva no enfrentamento de doenças. Lidar com os desafios com mais tranquilidade e otimismo pode não garantir a cura, mas torna a rotina mais leve e causa menos sofrimento.

Nesse contexto, o papel do médico que precisa dar um diagnóstico difícil é essencial. A forma como você escolhe passar uma notícia não muda o fato, mas indica modos de compreender a situação. Falar com frieza, de maneira rápida e fatalista, por exemplo, aumenta o impacto negativo da informação.

Por outro lado, uma postura sensível, que promova o acolhimento, diminui o poder destrutivo das emoções negativas. Isso não significa que o paciente não vá ser invadido por sentimentos de tristeza e desesperança, mas, nesse momento, você vai estar disponível para compreender as reações e oferecer suporte.

Emoções positivas, como se sentir amparado pela equipe médica e pensar positivo em relação à doença, traz efeitos interessantes para a saúde. Pessoas otimistas costumam aderir melhor ao tratamento, apresentar um sistema imunológico mais resistente e estar mais protegidas contra efeitos colaterais da medicação ou até mesmo contra problemas psicológicos, como a depressão.

Siga essas 8 dicas na hora de dar o diagnóstico
1. Construa um vínculo de confiança desde o começo
A pessoa que procura atendimento médico está passando por um período delicado. Quando se trata de um diagnóstico difícil, é provável que o paciente já tenha passado por outros profissionais e se submetido a procedimentos invasivos. A dúvida sobre o que está errado com a sua saúde gera, na maioria dos casos, muita ansiedade.

Tudo isso indica para você a importância de cuidar dessa pessoa e exercitar o acolhimento desde o início. Portanto, a atenção ao dar um diagnóstico difícil não acontece apenas quando já se sabe o que o paciente tem, mas desde o primeiro momento em que ele chega até você.

Acalmar as angústias e criar um vínculo positivo é essencial para conquistar a confiança da pessoa e prepará-la para as informações que ela precisará receber. Por isso, procure conhecer o paciente além dos seus sintomas. Saiba sobre a sua vida, o que ele está sentindo e como o processo de identificação da doença está impactando a sua rotina e as suas emoções.

2. Crie uma atmosfera segura para repassar o diagnóstico
Além da confiança que o paciente deve sentir, é importante oferecer conforto e segurança no momento de dar um diagnóstico difícil. Receber notícias fortes "de supetão", em um corredor de hospital ou, ainda, no meio de outras pessoas, não é uma opção cuidadosa. Faz-se necessário que o médico prepare um ambiente.

Você deve receber o paciente em um espaço silencioso e agradável, em que ele possa se sentar e ficar à vontade. A privacidade e o conforto são elementos indispensáveis nesse momento. Outro ponto essencial é a disponibilidade de tempo: não planeje passar essas informações de forma rápida.

As necessidades do paciente precisam ser reconhecidas e valorizadas. Ele vai precisa de tempo para compreender o que você diz e elaborar toda a situação. Uma conversa desse tipo não é simples. Portanto, tenha tempo suficiente para respeitar o ritmo da pessoa e garantir liberdade para que ela assimile o assunto.

3. Organize apoios para o paciente
Receber uma notícia ruim estando sozinho costuma ser muito mais complicado. Em alguns casos, essa situação configura até risco de vida para o paciente, que pode sair da sala bastante desnorteado. Por isso, é indicado pedir que ele venha acompanhado por alguém em quem confia.

Essa é uma postura delicada para o médico, pois é preciso pensar também no direito ao sigilo. Alguns pacientes podem desejar não compartilhar o diagnóstico com ninguém próximo, pelo menos no início. Assim, você não deve impor a presença de um acompanhante. É melhor perguntar como ele se sente à vontade.

Caso a pessoa venha sozinha, você pode solicitar a presença de outro profissional para prestar esse suporte. Pode ser alguém da equipe com quem o paciente já tenha criado um vínculo ou um especialista, como o psicólogo ou o assistente social. Não deixe de se certificar de que a pessoa tenha uma forma segura de ir para casa depois de receber a notícia.

4. Explique tudo de maneira clara e didática
Ao dar um diagnóstico difícil, você deve considerar o nível de conhecimento do paciente. Quando estiver falando com alguém que não é da área médica, lembre-se de traduzir os termos técnicos e facilitar ao máximo a compreensão das informações. Além de não ter conhecimento do assunto, o paciente terá o seu raciocínio comprometido pelo abalo emocional.

É comum que ele deixe de compreender ou mesmo de escutar você assim que entende a gravidade da conversa. Por isso, certifique-se de dar a notícia aos poucos, oferecendo pausas para que ele absorva o que foi dito e se recomponha. Sempre que necessário, repita algo que não ficou claro.

Se for preciso passar muitas informações sobre diagnóstico, prognóstico e tratamento, avalie a melhor forma de fazê-lo. Despejar muitos dados de uma só vez pode potencializar o sofrimento do paciente. Além disso, dificilmente ele vai se lembrar de tudo quando sair do consultório.

Procure reforçar as informações mais importantes ao longo da conversa. Repita, por exemplo, o primeiro passo do tratamento. Depois de receber uma notícia ruim, é provável que a memória da pessoa sobre essa ocasião fique difusa. Dessa forma, ela vai lembrar mais facilmente do que causou maior impacto ou foi mais reforçado por você.

5. Envolva o paciente na conversa
Embora seja você quem esteja trazendo as informações, a outra pessoa ainda é a protagonista da situação. Não cometa o erro de falar demais, sem parar para ouvir o paciente. É normal que ele se sinta chocado e não saiba o que dizer, mas oferecer espaço para que a pessoa se expresse é a forma de saber como ela se sente e o que está entendendo.

Faça algumas pausas na conversa e preste bastante atenção na linguagem corporal do paciente. Ofereça acolhimento caso ele comece a chorar e perceba quais informações o deixaram confuso. Outra forma de envolvê-lo na conversa é fazer perguntas simples e sempre questionar se ele tem alguma dúvida.

6. Não dê falsas esperanças
Uma tendência humana diante de situações graves é oferecer palavras de conforto, antecipando soluções para o problema. Um médico precisa ter muito cuidado com isso. Afinal, o paciente vai se apegar a tudo que ele falar. Um simples “vai ficar tudo bem” pode causar muitas dificuldades no futuro.

É importante que você tenha atenção com as palavras que usa. Certifique-se de passar apenas orientações corretas e informar o prognóstico real. Dar um diagnóstico difícil não deve ser uma sentença, mas também não é aconselhável exagerar no otimismo e dar falsas esperanças para o paciente.

Oferecer o acolhimento necessário e reconhecer a importância do suporte emocional e do pensamento positivo para o enfrentamento da doença não significa prometer a cura. É preciso deixar claro os desafios e as possibilidades do tratamento, inclusive para pessoas que entrarão em cuidados paliativos.

7. Acolha os sentimentos do paciente
A hora de dar um diagnóstico difícil exige muito mais do que os conhecimentos especializados do médico. Na verdade, a postura empática e o apoio psicológico oferecido ficarão mais marcados do que as informações técnicas. Portanto, esteja disponível para compreender as reações emocionais do paciente.

É interessante ter água e uma caixa de lenços à disposição nessa conversa. Além disso, olhe sempre a pessoa nos olhos e fale em um tom de voz acolhedor. Mantenha-se aberto a emoções diversas — por exemplo, apatia, negação e raiva. É comum esperar crises de choro nesse momento, mas nem todos reagem da mesma forma.

Mostrar compreensão em relação às emoções do paciente e validar o que ele está sentindo é primordial. Você pode falar, por exemplo, que sabe como é difícil receber essas informações e que é normal não acreditar inicialmente em toda a situação. Deixe clara a sua disposição para acompanhá-la nesse período desafiador.

8. Mostre-se disponível para esclarecimentos posteriores
Saber que tem uma doença grave é um grande baque. É comum que a pessoa não consiga absorver todas as informações ou não faça as perguntas necessárias. Por isso, esclareça que o paciente pode contar com você para responder questionamentos que surjam depois da consulta.

Nos dias e semanas posteriores é que ele poderá pensar com mais calma no assunto e até conversar com familiares e amigos, que também terão uma série de perguntas. Passado o choque inicial, com certeza o paciente precisará retomar alguns pontos da conversa. Isso é normal e esperado.

Assim, dar um diagnóstico difícil não se resume ao primeiro diálogo. É aconselhado que, a cada novo encontro, seja feito um resumo das informações passadas e esclarecimento de possíveis dúvidas novas. Para que o paciente se sinta à vontade, sempre pergunte se ele tem algum questionamento e reforce a sua disponibilidade.

Saiba como se preparar para essa tarefa desafiadora
Fica claro que falar sobre um diagnóstico difícil não é complexo apenas para quem recebe, mas também para quem tem a tarefa de dar essa notícia. A expectativa dos médicos na sua profissão é promover a cura e o bem-estar. Por isso, passar informações negativas também mexe com as emoções do profissional.

Isso não deve ser encarado como fraqueza ou vergonha. Ao contrário, colocar-se no lugar do outro e compreender a sua dor é central para a construção de uma postura empática.

Logo, você não deve se sentir constrangido ao ter dificuldade para dar um diagnóstico difícil. Abaixo, veja algumas dicas para se preparar para esse momento:

Tenha segurança das informações que passar
Se você não domina o assunto sobre o qual vai conversar com o paciente, o momento pode envolver ainda mais nervosismo. Por isso, uma das dicas é estudar bastante sobre as informações que serão passadas. Tenha certeza, principalmente, dos efeitos da doença e dos detalhes do tratamento.

Isso é fundamental não só para mostrar dados corretos e esclarecer as dúvidas do paciente, mas também para que você se sinta mais à vontade durante a conversa.

Um encontro tão intenso quanto esse já mobiliza muitas questões que fogem do seu controle. Portanto, vale a pena investir em atualização do conhecimento e aumentar a segurança sobre o que já se sabe do tema.

Planeje o que vai falar
Contar apenas com a sua espontaneidade no instante não é a melhor alternativa. Como falamos, o paciente pode ter reações muito diversas, e o médico não está imune a elas. A atmosfera emocional pode desestabilizar você e tornar o momento ainda mais desafiador. Embora seja humano se deixar afetar, é importante saber manter o equilíbrio para oferecer o suporte emocional que a pessoa precisa.

Dessa forma, planejar o que vai ser falado é uma estratégia para não ser pego desprevenido — você pode, inclusive, anotar em um papel os tópicos indispensáveis da conversa. Isso não vale apenas para as informações técnicas. É válido também pensar previamente em frases e atitudes de apoio para diferentes sentimentos do paciente.

Cuide das próprias emoções
Nunca podemos esquecer que o médico é uma pessoa. Você também precisa estar bem antes de se submeter a uma conversa densa e triste. Não negligencie os seus próprios problemas. Pode ser muito difícil, por exemplo, dar notícias ruins para um idoso, se você recentemente sofreu uma perda de alguém mais velho na família.

As suas emoções podem fazer com que o médico não consiga estar de forma plena com o paciente no momento de dar um diagnóstico difícil. É possível que você se mostre muito abalado, mais frio ou distante por causa das suas vivências pessoais.

Considerando isso, é essencial reconhecer o seu estado emocional e cuidar dele. Se você sente que a tarefa de passar informações complicadas está mexendo muito com seu psicológico, vale a pena procurar atendimento especializado e se tratar. As equipes de saúde precisam, antes de tudo, estar bem.

Busque o suporte de outros profissionais para dar a notícia
O trabalho de algumas profissões da saúde envolve, mais diretamente, o apoio do paciente em momentos difíceis. É o caso de psicólogos e assistentes sociais. Portanto, você pode pedir o auxílio deles sempre que considerar necessário. É possível tirar dúvidas sobre a melhor abordagem ao paciente ou mesmo solicitar que esses profissionais estejam presentes no encontro.

Além disso, muitas vezes, outros membros da equipe de saúde constroem vínculos positivos com o paciente. Um enfermeiro, por exemplo, que seja reconhecido por sua dedicação e carinho com as pessoas pode ser um apoio na hora de passar a notícia para a pessoa.

Dar um diagnóstico difícil sempre vai ser um desafio na rotina do médico. Tanto o paciente quanto a equipe de saúde trazem expectativas sobre o tratamento e a cura de doenças. Assim, notícias ruins mexem com a emoção de todos. Por isso, é importante se preparar para esse momento com as orientações que você conferiu neste post!

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