Entenda como está a área de cuidados paliativos no Brasil

Publicada 10/05/2019

Em nosso país, poucos são os hospitais que estão verdadeiramente preparados para cuidar dos pacientes que apresentam doenças que ameaçam a vida. A quantidade de profissionais especializados em cuidados paliativos no Brasil é deficiente, e não há muitos médicos que focam sua atenção no alívio do sofrimento daqueles que são vítimas de enfermidades graves ou incuráveis.

A consequência disso é um número enorme de pessoas que chegam ao final de suas vidas sentindo dores excruciantes. A angústia dos pacientes se estende também aos familiares, o que interfere na qualidade de vida de todos os envolvidos e pode levar à perda de oportunidades sociais e profissionais.

Enquanto a doença afeta apenas o paciente, suas consequências atingem toda a família e os amigos. Oferecer alternativas para aliviar o sofrimento e trazer mais qualidade à vida e ao processo da morte é o papel dos cuidados paliativos — o que pode ser entendido como dar atenção integral ao indivíduo, e não à enfermidade que ele apresenta.

Quer saber mais sobre essa área de atuação e como ela é vista no Brasil? Continue conosco!

Qual é a importância dos cuidados paliativos?

Na década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o conceito de cuidado paliativo pela primeira vez. Na época, o termo foi empregado para definir o cuidado total e ativo destinado àqueles pacientes que apresentavam doenças incuráveis. A abordagem da dor e as questões psíquicas, sociais e espirituais foram incluídas como essenciais ao atendimento.

Essa definição, no entanto, limitava a aplicação dos cuidados paliativos. A dicotomia entre curável e não curável, paliativo e não paliativo, tornou o modelo proposto inadequado. Para exemplificar, basta pensar nas inovações na Medicina e como elas trazem constantemente novas opções de tratamento e cura para problemas que antes não tinham solução.

Assim, em 2002, a OMS determinou que os cuidados paliativos são indicados para adultos e crianças que têm alguma doença que ameace a vida. A partir de então, o foco passou a ser no sofrimento relacionado a uma doença grave, independentemente de ela ser ou não curável.

Por trás dos cuidados paliativos, há mais do que uma filosofia de cuidado. Os profissionais envolvidos utilizam técnicas específicas e competências para amenizar os sintomas físicos e emocionais. A consequência para os pacientes é o alívio do sofrimento, promovendo o seu bem-estar e contribuindo para o aumento da sobrevida.

A família também deve receber assistência durante as etapas da doença e do luto. Um ponto que deve ser desmistificado é a impressão de que o paciente está se entregando ao aceitar os cuidados paliativos. Caso o quadro de saúde melhore, ocorrerá normalmente a alta e serão recomendadas ações para a continuação do tratamento em casa.

Do ponto de vista financeiro, investir nos cuidados paliativos significa redução de custos. A prática evita internações e terapias desnecessárias, e os recursos podem ser alocados em serviços que realmente beneficiarão os pacientes.

Como está a percepção dos cuidados paliativos no Brasil?

No mundo inteiro, estima-se que 18 milhões de pessoas morram anualmente sentindo dores intensas. Por aqui, nós contribuímos para esse número tão expressivo: apenas 177 dos mais de 2.500 hospitais brasileiros com mais de 50 leitos contam com um serviço de cuidados paliativos atuante.

A situação ainda é mais grave nas regiões Norte e Nordeste, onde apenas 13 equipes especializadas no assunto são encontradas. A oferta de cuidados paliativos de qualidade em nosso país é, portanto, uma realidade para poucos.

De acordo com a OMS, o Brasil recebeu a Classificação 3A no Atlas Global de Cuidado Paliativo. Na prática, isso quer dizer que:

- o desenvolvimento do cuidado paliativo é irregular e recebe pouco apoio;

- as fontes de financiamento são fortemente dependentes de doações;

- há uma disponibilidade limitada de morfina;

- encontramos poucos serviços de cuidado paliativo em comparação ao tamanho da população;

- o sistema de saúde brasileiro está muito atrasado na integração desses serviços.

A consequência da falta de estímulo aos cuidados paliativos no Brasil pode ser observada no ranking da qualidade de morte. Nosso país ocupa apenas a 42ª posição, ficando atrás de países como Argentina (32º), Uruguai (39º), África do Sul (34º) e Malásia (38º).

O consumo per capita de opióides no Brasil é de 9,5 mg, valor bastante inferior ao empregado nos Estados Unidos (551 mg). Observando todos os dados apontados em conjunto, concluímos que muitos pacientes com doenças graves no Brasil sofrem com dores não controladas, sem receber os cuidados paliativos necessários.

Há, no entanto, uma esperança nesse cenário. Em novembro de 2018, foi publicada a Resolução nº 41 da Comissão Intergestores Tripartite (CIP). Nesse documento, foi estabelecido que os cuidados paliativos deverão integrar os cuidados continuados ofertados nas Redes de Atenção à Saúde. Os objetivos dessa integração, segundo a resolução, são:

- melhorar a qualidade de vida dos pacientes;

- incentivar o trabalho em equipe multidisciplinar;

- fomentar o ensino de disciplinas e conteúdos programáticos relacionados aos cuidados paliativos em cursos de graduação e especialização dos profissionais de saúde;

- ofertar permanentemente o ensino de cuidados paliativos para os trabalhadores da saúde no SUS;

- promover a disseminação de informação sobre os cuidados paliativos na população;

- ofertar medicamentos que promovam o controle dos sintomas;

- desenvolver uma atenção à saúde humanizada.

O mercado de trabalho nessa área está aquecido?

Como vimos, os cuidados paliativos no Brasil estão apenas engatinhando. Ainda há muito espaço para desenvolvimento, com uma grande carência de profissionais nessa área.

E a demanda tende apenas a crescer, uma vez que o grupo que mais necessita desse tipo de atenção — os idosos — não para de crescer. Vivemos um período de transição demográfica, em que o envelhecimento da população é estimulado pela redução nas taxas de natalidade e mortalidade.

Há, com isso, o aumento da preocupação com a manutenção da qualidade da vida dos maiores de 65 anos. Afinal, os idosos estão mais sujeitos a apresentar doenças graves e incapacitantes, que podem se prolongar por muitos anos e causar sofrimento ao paciente e seus familiares.

Dessa forma, podemos concluir que o mercado brasileiro precisa de profissionais capacitados para oferecer conforto e contribuir para a qualidade de vida daqueles que apresentam doenças graves. Os médicos dificilmente encontrarão essa capacitação durante a graduação, uma vez que há poucos cursos de Medicina que oferecem a disciplina de cuidados paliativos, e, na maior parte deles, ela não é obrigatória.

Como se preparar para atuar na área de cuidados paliativos?

Se durante a faculdade de Medicina pouco se fala nessa modalidade de assistência, a melhor alternativa para quem deseja se aprofundar na área é investir em um curso de pós-graduação em cuidados paliativos.

Essa especialização foi desenvolvida para formar profissionais capazes de atuar no cuidado integral ao paciente que apresenta doenças graves e abrange temas como:

- enfrentamento das condições de terminalidade;

- técnicas para redução da dor e do sofrimento;

- abordagem de emergências;

- sedação paliativa;

- processo de luto;

- entendimento da morte sob diversas crenças;

- espiritualidade.

Continuar (ou retomar) os estudos é, portanto, a melhor forma de se preparar para essa área tão desafiadora e que carece de profissionais qualificados. Aqueles que desejam atuar nesse campo não precisam abandonar suas especialidades, mas podem agregar o conhecimento adquirido em uma nova especialização para oferecer um cuidado mais amplo a seus pacientes.

Agora que você conhece o panorama dos cuidados paliativos no Brasil e suas particularidades, acha que essa área de atuação combina com o seu perfil? Caso deseje entrar nesse ramo, busque um programa de pós-graduação de excelência e prepare-se para fazer a diferença na vida de muitos pacientes e seus familiares.

Ficou interessado em se especializar nessa área tão escassa de profissionais mas bastante promissora? Aproveite para conhecer o curso de pós-graduação em Cuidados Paliativos da Faculdade Unimed!




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