Qual a importância da comunicação para os Cuidados Paliativos?

Publicada 19/11/2020

Com o aumento da expectativa de vida e da proporção de idosos na população, espera-se um crescimento em doenças como o câncer, alzheimer, parkinson e outras condições que podem trazer sofrimento ao paciente e a sua família.

Foi pensando nesses pacientes que surgiram os cuidados paliativos, que visam trazer mais conforto para pessoas com doenças que ameaçam a vida e proporcionar uma morte digna a eles.

Por se tratarem de pacientes em uma situação muito delicada, é esperado que tenham uma resposta emocional muito forte ao receberem o prognóstico, o que torna a comunicação muito importante para a relação médico-paciente e para a saúde mental do paciente e seus familiares.

Hoje iremos falar sobre como a comunicação é uma parte integral dos cuidados paliativos e sua importância para amenizar o sofrimento, tanto do paciente, quanto da equipe médica, que pode sofrer com questões como Burnout ao trabalhar com pacientes terminais.

 

O que são cuidados paliativos?

De acordo com a OMS, os cuidados paliativos são a “assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos espirituais”.

Apesar de ser mais focado em pacientes terminais, os cuidados paliativos também são uma opção para aqueles com doenças crônicas ou degenerativas, tais como ELA, câncer em estágio inicial, cardiopatias graves, Alzheimer, entre outras, mesmo que não estejam em estágio terminal.

De fato, o mais recomendado é que o tratamento seja iniciado o mais cedo possível, inclusive enquanto há chances de cura, com o objetivo de controlar sintomas e efeitos colaterais dos tratamentos, como dor, anorexia, incontinência urinária ou constipação, delirium, entre outros.

 

Como é composta uma equipe de cuidados paliativos?

A equipe de cuidados paliativos deve ser multidisciplinar, pois paciente e familiares precisam de um suporte que vai além de questões puramente biológicas.

Contar com psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas, entre outras especialidades, ajuda a oferecer todo o suporte necessário para passar por momentos difíceis.

Ao entender as necessidades e dores dos pacientes de maneira ampla, uma equipe multidisciplinar também pode tornar a comunicação mais fluída, pois poderão auxiliar o pacientes em diferentes âmbitos de sua vida e proporcionar maior bem-estar físico e mental.

Agora vamos falar da comunicação em si e ver algumas dicas para dar notícias negativas de forma mais empática.

 

Qual a importância da comunicação nos Cuidados Paliativos?

Saber como informar prognósticos negativos e como conversar com a família sobre quais tratamentos seguir é uma parte integrante dos cuidados paliativos, pois somente tendo uma visão clara, honesta e objetiva da chances de sobrevivência, da gravidade da doença e das opções de tratamento, pacientes e familiares poderão tomar decisões que se adequam aos seus valores e crenças.

Além disso, isto também permite que eles lidem melhor com a situação, sem criar falsas esperanças sobre as chances de cura, quando existem.

A coordenadora da Pós-Graduação de Cuidados Paliativos da Faculdade Unimed, Cristiana Savoi, enfatiza que uma comunicação clara e compassiva é importante para a própria prática médica.

“Fazer medicina centrada no paciente só é possível se conhecemos o paciente. Precisamos cuidar da comunicação, se quisermos exercer com excelência nossa prática”, explica.

 

Como dar notícias ruins?

Comunicar prognósticos difíceis é uma tarefa difícil e pode ser desgastante psicologicamente até mesmo para o profissional responsável por conversar com o paciente e a família.

A relação com a família nestes momentos é especialmente importante, visto que muitas vezes o paciente está inconsciente ou não tem condições de tomar decisões, como no caso de idosos com doenças neurodegenerativas e crianças menores de 18 anos.

Diante disso, Cristiana Savoi oferece algumas dicas que podem ajudar os profissionais de saúde a se comunicarem melhor em momentos difíceis:

  • Prepare-se para uma conversa difícil. Reveja as informações do prontuário, dedique um momento para organizar as ideias mentalmente e esclareça com os demais envolvidos pontos relevantes (um resultado de exame, a opinião do colega que participa do caso, a impressão da enfermeira que acompanha o paciente).
  • Reserve um tempo de qualidade para a interação. Programe-se e lembre de silenciar o celular para evitar interrupções.
  • Escolha um local tranquilo e reservado para o encontro. Na prática de hospitais e serviços de urgência, temos que ser criativos e nos adaptar ao cenário possível. Em situações adversas, garantir o mínimo de conforto pode ser conseguir uma cadeira num canto menos movimentado no corredor do pronto-atendimento.
  • Antes de mais nada, esteja disponível para escutar o que o paciente ou o familiar tem a dizer. Muitas vezes, falamos demais e deixamos pouco espaço para a livre manifestação dos nossos interlocutores. É impressionante a riqueza de informações que eles nos trazem quando lhes damos oportunidade. Além disso, fica claro nosso interesse e consideração. O recado é: ‘O que você pensa é importante pra nós, queremos te ouvir.’
  • Procure saber quais são as opiniões, impressões, demandas e expectativas dos participantes. Lembre-se de que nem sempre os seus planos para a conversa vão se cumprir. Quem dá o ritmo do diálogo é o paciente ou o familiar.
  • Apure os ouvidos e aguce a percepção para receber as mensagens não verbais. O bom médico é capaz de ouvir o que não é dito. As expressões faciais, gestos, tom de voz e postura corporal nos dão valiosos dados sobre o estado de espírito de quem está conosco. Da mesma forma, esteja atento para os sinais que você manda. Olhar nos olhos, sentar-se no mesmo nível, manter fala serena e postura aberta são importantes formas de demonstrar cuidado e empatia.
  • Ao falar, cuide das palavras. Evite jargões e termos técnicos, eles nos afastam do paciente e geram confusão. Faça pausas e dê tempo ao interlocutor para digerir o que escutou e, caso precise, fazer perguntas.
  • Acolha as emoções. Frequentemente, diante de notícias ruins, presenciamos manifestações de choro, raiva, agressividade e medo. É importante validar essas reações e permitir que elas sejam expressas. Aguarde, fique em silêncio. Evite interromper com frases prontas como ‘Não fique assim’ ou  ‘Não chore’. Um toque pode ser muito bem-vindo. Ou não. Não há regras fixas, e o médico deve se orientar de acordo com cada situação e cada pessoa.
  • Certifique-se que houve o entendimento da mensagem e que não ficaram dúvidas. Use estratégias de verificação, como talk back:  ‘O que o senhor diria caso alguém lhe perguntasse sobre o que falamos hoje?’
  • Ao final da conversa, resuma os pontos importantes e trace um plano. Defina os próximos passos e deixe claro que estarão juntos ao longo do processo.

Por mais que não seja possível evitar o sofrimento ao comunicar a uma pessoa que um ente querido está com uma doença terminal, estas atitudes ajudam os participantes da conversa a lidar melhor com os fatos e a fortalecer a relação entre médicos, pacientes e familiares, facilitando a tomada de decisões no futuro.

 

Como cuidar da saúde mental da equipe de saúde?

Conforme pesquisas com médicos residentes, é comum ter sentimentos de impotência, frustração, angústia, ansiedade e sensação de fracasso ao comunicar prognósticos negativos ou tratar com familiares que insistem em intervenções que irão trazer apenas sofrimento, sem chances de cura para o paciente.

Por isso, muitos profissionais sofrem desgastes físicos e psicológicos, de forma que cuidar da saúde mental dos profissionais de saúde também é importante.

Quando há uma boa comunicação entre família, paciente e os membros da equipe médica durante todo o tratamento, é possível evitar situações estressantes, diminuindo o sofrimento mental de todos.

Uma grande fonte de angústia é quando a família não consegue chegar a um consenso sobre o tratamento. Por isso, quando possível, é importante conversar com o paciente sobre seus próprios desejos e quais tratamentos ele aceita, quais não.

Em muitos casos é possível registrar uma Diretiva Antecipada de Vontade, onde o paciente explicita os tratamentos e cuidados que deseja ou não ser submetido.

A DAV é importante pois traz maior autonomia para o paciente e pode evitar situações em que família e equipe não chegam a um consenso sobre quais caminhos seguir, pois o próprio paciente já tomou estas decisões previamente.

Uma boa comunicação também cria uma relação de confiança entre os envolvidos no tratamento, de forma que todas as decisões são tomadas em conjunto e família e paciente tem tempo para se preparar psicologicamente e espiritualmente para a morte.

Por fim, os cuidados paliativos também são uma forma da equipe médica oferecer ao paciente tudo o que é possível para uma morte digna, evitando sentimentos de culpa e fracasso, e ajuda todos a aceitar que a morte é parte do ciclo da vida e não representa um fracasso por parte dos médicos e enfermeiros.

 

Por que se capacitar em cuidados paliativos?

Capacitar-se em cuidados paliativos é importante para aprender como lidar com doenças terminais, em quais momentos não se deve mais insistir em intervenções médicas que não irão trazer benefício e como oferecer um atendimento mais humanizado aos pacientes, respeitando seus desejos e colocando-os no centro do cuidado.

Ainda de acordo com Cristiana Savoi: "O profissional capacitado para o cuidado melhora a qualidade da assistência, aumenta a satisfação dos pacientes e familiares e agrega valor para a instituição na qual trabalha. Além disso, torna-se uma pessoa realizada e feliz em sua prática profissional. Os índices de esgotamento (burnout) tendem a ser menores nesse grupo de profissionais".

A Pós-Graduação em Cuidados Paliativos da Faculdade Unimed é voltada para todos os profissionais de saúde com ensino superior completo que desejam atuar em unidades de cuidados paliativos ou em unidades onde há contato com situações limite de morte, luto e dor.

Durante o curso o aluno irá desenvolver ferramentas para enfrentar situações de terminalidade, visando a redução da dor e sofrimento físico e mental. Também entenderá melhor os processos de luto, como lidar com a morte nos diferentes ciclos da vida, a importância da espiritualidade na saúde mental de pacientes, temas ligados à tanatologia, dentre outras discussões relevantes para a prática paliativista.

Para saber mais, entre em contato conosco clicando aqui.




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